Carioca de 48 anos quer entrar para o Livro dos Recordes ao completar, sobre rodinhas, um desafio entre a Guiana Francesa e a Patagônia argentina
O aventureiro Marcelo Silva se encaixaria perfeitamente no personagem mais famoso das músicas de Raul Seixas: o Maluco Beleza. É exatamente assim, equilibrando "maluquez" com lucidez, que este corajoso carioca de 48 anos encarou diversas aventuras esportivas pelo mundo e, agora, se prepara para a maior delas: atravessar de skate os 13 mil quilômetros de estrada entre a Guiana Francesa e a Argentina.
De início, pode parecer apenas uma loucura. Mas quem escuta alguns minutos da explicação de Marcelo sobre como fará o desafio de passar 330 dias andando de skate, com uma média diária de 40, 50km, logo mudará de opinião. A coragem não deixa de ser o “carro-chefe” do projeto, mas por trás dela há um grande aparato que promete garantir que a ousada missão se torne possível.
Marcelo vai tentar entrar no Livro dos Recordes com sua aventura (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
Vários mapas, bússolas, velocímetros, rodas, ferramentas, fotos, livros, skates e pranchas espalhados e desordenados “decoram” seu pequeno apartamento/escritório, localizado em Copacabana. Ele garante, porém, que se entende no meio da bagunça. Afinal, cada um desses objetos é essencial na elaboração da audaciosa aventura. O principal deles é o mapa, ou melhor, os mapas. Um maior está exposto em destaque na parede da sala, enquanto o menor fica em cima de sua mesa de trabalho. Ambos levam anotações detalhadas do roteiro entre a Guiana Francesa e a cidade argentina de Ushuaia, passando por todo o litoral brasileiro.
Marcelo entre o mapa da aventura e a foto de seu
pai (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com) Marcelo pesquisou e anotou em seus mapas as dificuldades que enfrentará em cada uma das regiões. Temperatura, condições da pista, vento, fluxo de caminhões e até as distâncias entre possíveis locais de apoio foram estudadas.
- O maior problema que eu vejo é na Patagônia argentina, onde os ventos são muito fortes e tem setores com mais de 500km sem muito apoio e 200km sem posto de gasolina, por exemplo. Então, vou ter que colocar toda a estrutura possível no skate para que eu não tenha de pedir socorro.
Embora a sua aventura seja solitária, até a partida, programada para setembro, Marcelo contará com a ajuda de alguns profissionais e entidades. Além do auxílio fisioterápico e nutricional, o projeto reconhecido pela Confederação Brasileira de Skate (CBSK) virou tema de estudo do Laboratório de Robótica da PUC. Membros da universidade estão preparando um equipamento que permita garantir a energia correta para as câmeras que registrarão todo o percurso. As imagens coletadas serão usadas para o carioca tentar entrar no Livro dos Recordes e, mais tarde, devem virar um documentário.
- Eles estão me assessorando na elaboração de um carregador universal, que purifique as energias que eu tenho. As câmeras são instrumentos delicados, então não pode entrar uma voltagem excedente. O sistema não pode falhar de maneira nenhuma na estrada – explicou Marcelo, que garante a trilha sonora da sua viagem no MP3 graças ao sistema de captação de energia solar de seu capacete.
Detalhes da máquina e do retrovisor acoplados no
capacete (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com) Mas este é só mais um dos detalhes pensados. Na “bagageiro” de seu skate, levará comida, roupas de frio, caixinha de primeiros socorros, ferramentas, rodas diferentes para cada tipo de estrada (neve, floresta e asfalto) e sua rede especialmente projetada para ser pendurada entre árvores. O capacete, além de ser uma fonte de energia solar, terá um retrovisor acoplado.
- Isso tudo faz com que as pessoas falem no final: “Ele era maluco. Mas ele sabia o que estava fazendo”.
Saber o que está fazendo, no entanto, foi uma conquista ao longo dos anos. Experiência adquirida em várias outras aventuras. Nos últimos 20 anos, Marcelo já viajou de bicicleta pelo Brasil (103 mil km); saltou em queda livre de um navio de 28 metros; explorou várias rochas do país escalando; e foi de Brasília ao Rio de Janeiro de skate (2,3 mil km). Mesmo passando por muitos sufocos, ele afirma com orgulho que nunca desistiu de nenhum de seus desafios.
- “Há três coisas que nunca voltam: a flecha lançada; a palavra pronunciada; e a oportunidade perdida”. Eu nunca voltei no meio de uma aventura. Já cortei a perna e continuei. Nada me faz parar quando eu estou em uma aventura. Se eu prometer que vou fazer essa aventura, eu vou fazer – disse o atleta, embora admita que já tenha entrado em depressão diante da dura rotina de uma longa aventura.
O “título” de maluco não o incomoda. Afinal, garante ter dois grandes motivos para tanta maluquice: a vontade de homenagear seu pai, o diretor de cinema Hélio Silva, que morreu há seis anos; e a paixão em explorar sensações e lugares diferentes.
- O que me motiva até hoje é o desconhecido, é o que tem depois daquela curva.